terça-feira, 7 de maio de 2013

Reflexões de um abduzido - Final

E a felicidade me envolveu. Inteiramente. Detive-me diante do telão de led e tudo parecia genialmente e meticulosamente construído para a minha satisfação. Tudo! A música (que já não parecia mais uma batida esquizofrênica), as animações dos telões, a caixa de som vibrando, as pessoas dançando ou andando ou beijando ou fritando... Lembrei-me nesse momento da conversa daqueles outros putos. Eu sentia meu corpo arder. Encontrava-me no inferno? Não sei nem se existe o inferno, mas se existe, ali era a porta de entrada pra ele. E todos nós éramos pequenos aspirantes a demoninhos, endiabrados e enlouquecidos de vontade de adentrar aos portais das profundezas com o intuito de fritar muito mais, e mais, e mais, e mais... A batida se incorporava à rítmica do coração. E mais, e mais, e mais... E de repente, a música nos causava ânsia. Ela nos apontava um caminho, nós não podíamos nos desviar. A música é a grande chave, e ela nos consome, nos embriaga e nos domina. Estávamos sentindo o que Pedro e Paulo sentiram em Atos dos Apóstolos quando ficaram bêbados pelo Espírito Santo. Estávamos embriagados no espírito, se era santo, não sei!
            Foi em meio a esse turbilhão de pensamentos e sensações que me vi dançando. Eu já estava suando e isso significava que fazia algum tempo que meu corpo se movimentava. De verdade, na sinceridade: eu não sabia que estava dançando. Nunca fui de dançar, sou horrível pra isso, pior que um cone! Mas eu dançava e ninguém ao redor se importava com a maneira com que eu estava dançando. As vaidades do homem se suprimiam. Ali éramos outros seres. Extraíram o nosso plasma, desidrataram o nosso cérebro, retiraram nossas roupas, estávamos nus. Todo mundo! Nu com a mão no bolso!
            Pensei que gostaria de estar ali com o velho Buk. Acho que ele detestaria, nunca gostou de companhia, mas eu queria o parecer dele sobre tudo aquilo. Foi então que ele me apareceu nos pensamentos, em meio ao frenesi da música:
            - Hei, James! O que pensa que está fazendo?
            - Estou dançando, Buk!
            - Isso ta uma droga! E o mais surpreendente é que tem uma gostosa olhando pra você com ares de libertinagem. Seu puto, vai se dar bem!
            - Acho que não estou com muita vontade de pegar ninguém, disse com um tom deprimido.
            - James, James! Você não consegue se enxergar mesmo. Olhe só pra você: um falido. Não quero que seja mais um hipócrita. Todos os dias você me procura e eu lhe respondo. E lhe digo sempre que a solidão não é uma má história de vida. Veja todas essas pessoas. Estão simplesmente felizes, estão quase ejaculando uns nas caras dos outros. Se aquela gostosa vier te esfregando os peitos na cara, faça valer os seus hormônios e bote no rabo dela, ta me entendendo?!
            - Ok, Buk! Farei isso, ela é realmente bem gostosa!
            - E não pense que ela te telefonará no dia seguinte. E você também, à partir de agora nunca mais telefonará no dia seguinte. Você é um autêntico paulista, o último representante da mediocridade humana, não se envergonhe, nem me envergonhe!
            - Onde você anda morando, Buk?
            - No paraíso. Tem conhaque no paraíso, sabia?
            - Como assim, conhaque?
            - Sim, contrabandeado na fronteira com o purgatório. A Madre Teresa de Caucutá é quem faz os pedidos das caixas de uísque. Aquela danada mama um etílico de forma desavergonhada... hahahaha!
            - Ta confuso pra mim. E Deus?
            - Deus está por aí, que falar com ele?
            - Acho que hoje não, estou um tanto atarefado no momento. Sabe como é. Preciso botar no rabo daquela gostosa que está se aproximando de mim.
            - Não responda a Deus da mesma forma que ele lhes responde.
            - Não é justo?
            - Justo é, mas justiça não existe quando o assunto é Deus!
            - Verdade! Diga-me, o que você faz no paraíso? Deveria estar no inferno, não?!
            - Eu sempre fui sincero comigo mesmo, seja também! – Disse e sumiu o velho Charles Bukowski.
            Quando dei por mim, após o papo com o Buk, vi braços alvos me envolverem, um hálito ácido perto da minha face, um corpo rijo e seios consistentes tocarem meu peito. Perguntei o nome dela. Ela me disse que era Carla. Retruquei dizendo Thiago, no que imediatamente ela me disse Érika. Pensei comigo mesmo que ela tinha dupla personalidade. A Carla, uma safada libertina e a Érika, a parte mais doce, mas de um doce apimentado. Então lhe disse que meu nome era Carlos, no que ela respondeu Verônica. Fiquei puto de tédio e tomei a cintura dela. Ela grudou no meu pescoço, pudia sentir seu corpo junto ao meu. Ela ofegava, quase gemia a danada, só com um beijo.

            Éh, Buk, me dei bem! Botei no rabo dela, seu puto!

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