Foi-nos proposto escrever algumas linhas sobre o conteúdo de todo esse
último ano no curso de Redação Publicitária. Aprendi aos montes; de doer a
cabeça! Muni-me de referências que, nem de longe, se tornaram um fado demasiado
grosso e pesado para as minhas costas (talvez o fora as minhas córneas). Até o
ano passado falava de mim como um leitor parco, pouco lido em obras fúteis,
versado menos nos mestres da arte do discurso do que nos autores de cabeceira e
autoajuda. Gostaria de, desde aqui,
nessas humilíssimas linhas agradecê-los: caros professores, obrigado por esse
ano abençoado! Sinto-me outro Thiago Jorge! Leitor inconteste, defensor da
retórica, amante dos livros, do teatro, da pintura e um hipocondríaco de marca
maior, marca maior!
Gostaria de pedir, na verdade evocar
(a lá Camões), os mestres Edgard Alan
Poe e Nelson Rodrigues¹ para me auxiliarem. De um eu gostaria da perspicácia, de
outro a poesia invisível da realidade humana. É claro que por cá não
tencionamos escrever como estes, mas, como em todas as vezes, que eles possam,
de onde quer que estejam, nos ajudar.
Em Redação Publicitária começamos
pelo início; do título. Aprendemos que o título é um grito e que ele conversa
com o texto, pois, precisa ser contextualizado e é justamente aqui que
solicitamos a ajuda de Mr. Poe; um texto publicitário visa persuadir. Só os
homens munidos da capacidade de observação, que sabem interagir com os
detalhes, mesmo aqueles mais simples e menos perceptíveis, podem compreender o
real sentido de um texto publicitário. Redatores são detetives, psicólogos,
poetas, musicistas. Os redatores leem tudo, ouvem tudo, veem tudo! Trata-se de
uma real sucessão de ideias: o consumidor é assim e assado (e o assado é justamente
o suprassumo da propaganda), e por isso os textos propagados, por vezes
gritados, serão verdadeiras xilogravuras de seus futuros destinatários Porque o
texto quer, de forma sorrateira e minuciosa, pertencer ao cotidiano do
consumidor, sempre de forma positiva, alegre, palpável e dinâmica. Um redator é
um August Dupin² da vida real. Sabe observar as frestas e delas fazer
verdadeiros portais, porque tem ciência que a grande ideia reside nos sinais
mais inexpressíveis.
E com Aristóteles aprendemos a
discursar e a ordenar as fases do texto, afinal se temos uma introdução a um
dado assunto, é necessário desenvolvê-la com convincentes (e verdadeiros, por
favor!) argumentos. Depois uma peroração (Gran Finale!) pra meter de vez na
cabeça do consumidor e dar aquela sacramentada final. Antes de mais nada, ele deve,
digo e repito em alto e bom som, DEVE comprar uma Coca-Cola, ou uma Pepsi, ou
arame farpado!
Lembrei-me da história do Juca, um
valentão lá do Tucuruvi. Desconfiado que era fortemente corneado pela nova
namorada, passou a despejar indiretas e mais indiretas pelo facebook a fim de
fazer com que ela ou meliante ricardão se intimidasse, afinal era Juca desses
rapazes de largos rompantes, alguns diziam até grosseiros. Sua medida chegou a
dar certo. A pequena ficou um tanto menos petulante e evasiva. Aquiescia sempre
a vontade do Juca e nunca mais, o que era o grande fator de desconfiança dele,
atrasou na saída do colégio. O Juca sempre ia buscá-la. Mas, como sabemos, as
coisas pelas redes sociais ocorrem de forma não presencial e o que na realidade acontecia era que os micro
textos de Juca foram mal interpretadíssimos, e não haveria de ser de outra
forma. Certa vez ele escreveu: “Traição é traição, romance é romance, amor é
amor e um lance é um lance!” O intuito era mostrar a Carminha que ele estava de
olho, que estava sabendo de como as coisas funcionavam. E o que houve foi que
Carminha entendeu que o Juca era tão promíscua quanto ela.
- Chumbo trocado não dói! Era o que
ela dizia.
O que aconteceu foi um inevitável
término, Carminha o mandou passear e ele, possesso, passou a proferir
impropérios despauterados pelas redes sociais o que o fez ser ainda mais temido
pelos lados virtuais do Tucuruvi!
Essa
história serviu para... nada. Na verdade, era pra ser uma metáfora sobre a
importância da boa expressão. Ser redator é incrível e difícil!
1.Edgar
Alan Poe, contista e romancista norte-americano do início do século XIX. Nelson
Rodrigues, contista, poeta, dramaturgo brasileiro, falecido na década de 1980.
2.August
Dupin, personagem do conto “Assassinatos na rua Morgue” de Edgar Alan Poe,
trata-se de uma pessoa de uma exímia capacidade de observação.
Ps. Quero
muito agradecer ao professor Rubens pela paciência, pela dedicação, pelo
incentivo e pelas ótimas aulas sem as quais esse ano perderia muito! Muito
obrigado!