Hoje
é quinta-feira e já se passaram três dias de Jornada Cultural na Faiter. Posso dizer,
com uma certeza desconcertante, que tem sido melhor que a Semana de Comunicação do
ano passado. A ideia, a organização, as palestras e workshopps foram pensadas
muito bem. Pena tudo acontecer praticamente ao mesmo tempo!
A palestra do Germano Pereira, na
segunda-feira, muito me agradou! Muito por uma certa identificação: a angústia
de escrever. Não que eu seja escritor, desses compulsivos, vorazes, que se
desligam da galáxia e experimentam respirar em planetas “nunca dantes
navegados”, como Vasco da Gama no Atlântico! Mas, justamente, pelo processo
ler-escrever. Aqui uma coisa não se distingue da outra, se confundem, se
misturam, se condensam e, no bojo das incansáveis leituras, na abundante
pesquisa, na apaixonante viagem do conhecimento surge a necessidade, clara e
manifesta - como uma pulsão freudiana no princípio do prazer -, de escrever,
escrever, escrever. Germano, no seu palestrar, nos muniu de várias referências,
justamente para poder assentar e embasar as suas próprias experiências e explicar os seus dilemas de escritor. Aconselhou-nos que, quando escrevêssemos,
por favor, não parássemos; uma ideia é como luz de fogo produzido por madeira
em brasa, é preciso se fazer madeira para não perder a luz desse fogo; escrever
é se deixar arder; o insight é a consequência última da leitura abundante,
desenfreada; o insight é fazer-se canal das suas próprias experiências...
Hamlet-Bashô, peça adaptada por Germano,
remonta muito bem esse processo. Trata-se de Hamlet em seu último momento,
quando o fio preso às costas se desprende da vida. O rio de João Cabral de Melo
Neto em Morte e Vida Severina se cristaliza e tudo o que passamos e experimentamos
nos assoma à mente; e é nesse momento que a reflexão nos leva a ter uma segunda
opção, a uma segunda decisão irrefreável que se desprende da realidade para,
numa metafísica platônica se fazer ideal, perfeita. Escrever é estar nesse momento
último da vida, numa adaptação da experiência adquirida.
O Germano tem uma maneira de falar
típica de ator, bem clara, comunicativa, expressiva... Gostaria de ter
perguntado se o escritor de romances Germano, dentro desse processo de
escrever, pára pra pensar no momento literário que vivemos, se se prende às
características temáticas e estéticas dos escritores contemporâneos, ou se esses
conceitos de escola literária já foram de todo esquecidos; se a Semana de Arte
Moderna de 22 foi conclusiva no seu liberalismo às avessas; se não viveremos
novos grandes momentos literários como um neorealismo ou um neossurrealismo ou
qualquer outra nova onda de pensadores-poetas... mas, com medo de monopolizar
esse momento de bate-papo com a galera, resolvi, em cima do que ele disse, me
responder: “Leia, clame a ajuda de Buda, tenha um insight e escreva, escreva, escreva... quem sabe...”?!